“Ainda quando eu falasse todas as
línguas dos homens, e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade não
seria senão como um bronze sonante...”
“... A caridade é paciente; é
doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não
se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses;
não se melindra e não se irrita com nada...”
Quando Paulo de Tarso definiu a
verdadeira caridade, deixando implícito ser a ―reunião de todas as qualidades
do coração, isto é, o amor, diferenciou-a completamente da prestação de serviços
aos outros, da distribuição de esmolas, da assistência social, da ajuda patológica
aos dependentes afetivos, de compensações de baixa estima, ou de tudo que se
referia a atitudes exteriores, sem qualquer envolvimento do amor verdadeiro.
Reforçou seu conceito
acrescentando que:
“E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os
pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse
caridade, tudo isso não me serviria de nada.”
Muitas vezes, doamos coisas ou favorecemos
pessoas, a fim de proporcionar a nós mesmos, temporariamente, uma sensação de
bem-estar, de poder íntimo ou de vaidade pessoal, como que compensamos nossos
desajustes emocionais e complexos de inferioridade.
São sentimentos transitórios e
artificiais que persistem entre as criaturas, que, por não se encontrarem
satisfeitas consigo mesmas, trazem profunda desconsideração e desgosto, e super
valorizou-se fazendo algo para o próximo, para provar aos outros que são boas,
importantes e merecedoras de atenção.
Na realidade, caridade é amor, e amor é a
divina presença de Deus em nós.
Raio com que Ele modela tudo, o amor é
considerado a real estrutura da vida e a base de toda a Lei Universal.
É
imprescindível esclarecermos que há inúmeras formas de focalizar a caridade, e
nós nos reportaremos a ela como o amor-essência - energias que emergem de nossa
natureza mais profunda: a Onipresença Divina que habita em tudo.
Minerais,
vegetais, animais e seres humanos, ao mesmo tempo que vibram também recebem
essa vitalidade amorosa, num fenômeno de trocas incessantes.
Um mineral de
rocha permanecera como tal, enquanto a atração e a tendência de seus átomos e
moléculas se mantiverem atraídos e integrados uns aos outros.
Tais atrações
constituem os primeiros estágios dessa energia do amor nos seres primitivos.
Semelhante poder atrativo prospera e se movimenta em cada fase da vida, de
conformidade com o grau evolutivo em que se encontram os elementos e as
criaturas em ascensão.
Observemos a Natureza: propensões, gostos e identificações
com as quais se particularizam cada ser do Universo, inclusive a própria
criatura humana, são movimentações dessa ―força de predileção, nomeada
comumente por ―aspiração amorosa.
Segundo o apóstolo João, Deus é
Amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele. Conseqüentemente,
nós, herdeiros e filhos Dele, somos Amor, criados por esse plasma divino;
portanto, somos oriundos do Amor Incomensurável, que sustenta e dirige suas
criaturas e criações universais.
Todos nós estamos nos descobrindo no processo
dinâmico da evolução, que se assemelha a um gradativo despetalar de camadas e
mais camadas; inicia-se pelas mais densificadas até atingir o cerne - nosso âmago
amoroso.
Deus fez os homens à sua imagem e
semelhança e, dessa forma, somente conheceremos o verdadeiro sentido da
caridade como amor criativo, integrador e generoso, quando tivermos uma clara
consciência de nós mesmos.
No momento em que passamos a identificar nos outros
a mesma essência de amor da qual eles e nós somos feitos, seremos capazes de
discernir o que é o sentimento de caridade.
Seja jovens, velhos, crianças,
sadios ou doentes, sejam homens ou mulheres, se passarmos a amá-los
incondicionalmente, como nos exemplificou Jesus, Nosso Mestre e Senhor, aí
estaremos completamente integrados na caridade.
Caridade não consiste em
assumir e comandar sentimentos, decisões, bem-estar, problemas, evolução e
destino das pessoas, aquilo, enfim, que elas podem e devem fazer por si mesmas,
porque quando tentamos reduzir as dificuldades delas, responsabilizando-nos por
seus atos, estamos também impedindo seu real crescimento e amadurecimento,
somente alcançados através das experiências que precisam enfrentar.
Assim,
distorcemos a genuína mensagem da caridade, do amor ou da doação verdadeira.
Encontramos ainda na 1ª Epístola
de João: Não escrevo um novo mandamento, mas sim aquele que tivemos desde o
princípio: que amemos uns aos outros.
Quanto mais limitada e particularizada
for a maneira de viver o amor, menor será nossa consciência de que todos os seres
humanos têm uma capacidade ilimitada de amar ao mesmo tempo muitas pessoas.
Quanto mais o amor for compartilhado com os outros, mais nos desenvolveremos e
nos plenificaremos na vida.
Olhar os outros com os olhos do
amor é a grande proposta da caridade.
O verdadeiro sentido da palavra caridade,
como a entendia Jesus, era: Benevolência para com todos, indulgência para com
as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Caridade é amor, e não há amor
onde não houver profundo respeito aos seres humanos.
Se substituirmos na conceituação
de perdão por Jesus as palavras benevolência, indulgência e amor-respeito,
compreenderemos realmente esse sentimento incondicional do Mestre por todas as
criaturas.
Amor-respeito para com todos, Amor-respeito
para com as imperfeições alheias, Amor-respeito aos ofensores: aqui estão as
regras básicas da conduta do Cristo.
Não olvidemos, porém, que
respeitar os outros não quer dizer ser conivente ou manter cumplicidade.
Concluímos ajustando o texto de
Paulo ao nosso melhor entendimento: Ainda que eu falasse a língua dos homens e
também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos
os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que
removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse
amor-respeito aos seres humanos.
(Do livro “Renovando atitudes”,
de Francisco do Espírito Santo Neto, pelo espírto de Hammed)
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