Amor de verdade muda
a vida da gente. Reconstrói, incendeia, engrandece. Eu compro o maior clichê da
humanidade e sou a primeira a bater no peito e dizer isso em alto e bom tom
para quem quiser ouvir. Mas diferente de todos os outros textos que já escrevi, este
especificamente, não é uma ode ao amor em si. É uma leitura direta e racional
do que existe por trás do sentimento mais sublime que existe no mundo. O amor é
absurdamente transformador, no entanto ele sozinho, infelizmente não consegue
fazer milagre. Para um relacionamento realmente dar certo, um monte de outros
sentimentos sólidos precisam amparar a base desta parceria. A fundação da casa
é muito mais importante do que o telhado colonial ou a maçaneta importada da
porta. Porque quando o primeiro furacão balançar as estruturas deste abrigo, só
permanecem de pé os abraços muito bem fundamentados. Colocando por terra a
maior ilusão da vida da gente, o amor, só o amor, por maior e mais verdadeiro
que ele seja, lamentavelmente não sustenta relacionamento de ninguém.
O que eu conheço de
casais que se apegam a esta fantasia definitivamente não está no roteiro. Eu
mesma quando era mais jovem adorava justificar a permanência em relacionamentos
doentios com o bordão: “mas eu sou apaixonada por ele”. O amor era sempre o
“mas” entre a vírgula e o ponto final. E esse “amor” me martirizava cada vez
que eu tentava pular fora de uma parceria que simplesmente não cabia na minha
vivência. Independente das incompatibilidades, do descaso, do desrespeito, da
falta de companheirismo, enquanto houvesse amor, existiria uma solução (assim
eu pensava). Acontece que, dia após dia, eu aprendi friamente com as mágoas, as
dores, os retrocessos emocionais que amor não era isso. Que estar em um
relacionamento era muito mais do que estar apaixonada pelo cara do meu lado.
Parceria saudável é
igualzinho receita de bolo. O amor é o toque final que faz a massa transbordar
doçura mesmo debaixo de um calor de 180 oC. O amor é a motivação. É o ímpeto
que te faz sair de casa de madrugada para pedir desculpas depois de uma briga,
o motivo pelo qual você coloca a timidez de lado e chama a garota para sair, a
razão pela qual você decide em primeira mão abrir a porta da sua vida para um
relacionamento em si. É o início e o fim de tudo, mas só amor sozinho não
suporta o durante. A paciência, a cumplicidade, o respeito, a compreensão, o
discernimento, o timing e um monte de sentimentos que na maioria das vezes são
subjugados dentro de uma relação é que sustentam a travessia. Se qualquer um
destes quesitos falha no seu propósito de construção de um alicerce sólido, o
relacionamento acaba. Acaba porque você olha nos olhos do outro e não reconhece
mais a essência daquela parceria. Acaba, porque o amor vira orquestra de um
apego só, que nada mais faz do que ecoar um verbo solto no meio de um teatro
vazio.
A gente presta tanta
atenção no grosso da palavra amor, que se esquece das mensagens subliminares
escondidas nas entrelinhas daquele parágrafo. Não basta amar até o último fio
de cabelo e não respeitar o momento do outro, alimentar ciúmes descontrolados,
possessividade, intolerância e um bocado de pequenas feridas que acabam por
matar o cerne da união. O amor é lindo, é mágico, é transformador e muda a vida
da gente. Muda, nem que seja pra gente entender que ficar sozinho em
determinada instância é melhor do que permanecer naquele enredo. Nem que seja
pra olhar pra trás e assumir que amou sim, perdidamente, mas que foi necessário
fechar aquela porta porque os caminhos infelizmente não conseguiram se encaixar
no presente do outro.
Não estou minimizando
a força do sentimento mais potente e corajoso que existe no universo. Ele vai
dar as caras quando você pensar em sair, ele vai frear a palavra no momento da
fúria, ele vai te encher de coragem para reformular as versões de si que não se
enquadram mais naquela travessia, para então tentar de novo. Contudo, mesmo o
mais resiliente dos amores precisa de uma boa retaguarda para enfrentar a batalha
diária que é sustentar um relacionamento saudável. O amor quando pede licença
em uma morada precisa de paz e aconchego para conseguir se instalar. Ele só é
tudo em uma relação quando amparado por um berço de sentimentos cuidadosamente
moldado. Fora isso ele deixa de ser motivação, para ser um mero ocupante dos
espaços vazios dentro do coração da gente. Melhor dizer adeus com um olhar
recheado do amor mais lindo do mundo, do que ficar e deixar esse olhar morrer
de inanição. Amor sozinho não sustenta uma relação, mas bem abraçado, ele
resplandece com a graça e a doçura de um pássaro em voo: aquele que fica por
livre arbítrio e não porque se sente aprisionado.
(Danielle Daian)
Olá Paula. Boa noite.
ResponderExcluirQue mensagem simplesmente ESSENCIAL. A gente, nos torvelinhos do tempo, no dia a dia de nossas existências, não nos damos conta da importância da vida. Adorei tanto que vou relembrar/praticar sempre os ensinamentos nela contidos. Abraços fraternos.