Texto inspirado nos
Escritos do Frei Neylor Tonin.
(Padre Jeferson)
Texto bíblico: Evangelho: Mt
6, 7-15
Quais as formas e os
meios que rezamos? Como rezamos? O que rezamos?
Não só rezar, mas,
também e principalmente, ser religioso sem neuroses.
É um desafio para
todos nós. Acredito que tudo que façamos deva ter um pouco de neurose.
Será?
Na verdade, a oração
é apenas uma manifestação de um jeito mais amplo de ser religioso, que pode ser
feliz ou triste, alegre ou amargo, adorante ou farisaico, alimentador ou
condenatório, livre ou neurótico.
Este jeito pode,
tristemente, caracterizar-se por expressões de modos e inseguranças, de
preguiças enfastiadas ou de falsa compreensão relacional, de falta de aprumo
espiritual ou de pessoas apresadas e insatisfeitas, de comandos intempestivos e
desmandos intemperantes.
Rezar não é fácil.
Na reza ou na oração
deve ter um sentido para a vida, isto é, um sentido mais profundo para a vida.
Rezar bem, com a alma
e coração, com intensidade e pureza interiores, com despojamento e olho
espiritual, não é coisa para marinheiros de primeira viajem ainda fascinados
pelo turbulento revolver-se das águas e enamorados por seu fascínio, mas
desconhecedores de seus perigos.
Rezar é bom e
necessário, é até gostoso e inebriante, mas os grandes orantes sentiram na pele
e ensinaram, em seus testemunhos e memórias, que não é fácil contemplar o invisível
onde se esconde o rosto do Amado, de Deus.
Sendo assim, a alma
que tanto deseja Deus, sofre imensamente pela insatisfação de ser tão pouco
dele e de tão pouco poder amá-lo e sentir-se por Ele amado.
Por que sentimos
isso.
Porque somos corpo,
corpo pesado de concupiscentes sentidos físicos, quão difícil nos é mergulhar
no invisível! Nesse meio ao colapso, não sabemos o que pedir ou a oração que
fazer ou a graça que desejamos.
Na verdade a grande
graça a ser pedida, neste estágio do itinerário espiritual, será a da
perseverança e a do não-desespero diante do aparente desaparecimento de Deus.
Há, na vida religiosa
(de oração), um meio-termo que é insatisfatório e nele se revelam as neuroses
de nossa relação com Deus.
Este meio-termo se
caracteriza por um desenfoque da verdadeira oração, no qual Deus é o centro e o
que reza se põe de joelhos.
Quando ocorre o
contrário, isto é, quando é o orante o centro e Deus é apequenado, ficando a
serviço das necessidades de quem reza, a oração ganha traços de neurose e perde
a fecundidade da graça divina.
O que consistem esses
traços neuróticos?
Consistem em
adulterar a natureza das coisas e das pessoas, de Deus e do orante.
Estabelece-se uma inversão de importância, ficando Deus como o criado-mudo da
história e o orante como o protagonista do discurso e da ação.
O orante, sendo
mendigo, comporta-se como patrão, e Deus, sendo Senhor, é tratado como
empregado.
A oração não passa,
então, de um enlouquecido cozinhar das carências humanas e não se dirige a Deus
Senhor e doador das graças.
Estas são exigidas
como expressão da pobreza humana, e não como escuta e deferimento da
generosidade e bondade divinas.
As pessoas dizem que
reza tanto e Deus não atende, ou ainda rezo muito e Deus me atende.
Em ambas os casos, não há uma fé explicita em
Deus, mas sim apenas estados emocionais prementes e assustador ou neuroses.
Nestes casos, a
oração não tem alma de adoração e de encantamento, mas se materializa como
atropelo de um espirito que manda comanda, que exige e cobra os dividendos da
fé.
É preciso atentar
para este tipo de apequenamento de Deus e para este comportamento espiritual,
lembrando-se de que Deus nos atende porque é Deus e nos ama, e não porque
acreditamos nele.
A verdadeira oração
se fundamenta num pressuposto existencial: quem reza reconhece e exalta a
grandeza de Deus, ao mesmo tempo em que aceita e confessa sua insignificância.
Não-neurótica é a oração que tem como centro e endereço Deus.
(Publicação extraída
do site http://fasdapsicanalise.com.br/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Amigos! Esse blog é de vocês. Nos alegramos muito com a sua colaboração!