quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O ESPIRITISMO E A PAIXÃO

“A paixão, meu amigo, é uma febre efêmera, resultado de uma reação bioquímica, que como qualquer outra reação é temporária. (…)
Parece que estou lendo um dicionário ou um manual de patologias psíquicas para falar de um fenômeno de natureza tão oposta. É como colocar um narrador de futebol para traduzir uma sinfonia de Mozart.
Sempre me intrigou o fato de que se o princípio que rege as paixões é falso, por que então ele existe na natureza? Por que permite Deus que nos apaixonemos?
Allan Kardec não deixou isso passar despercebido e mais uma vez me surpreendeu.
O Espiritismo, quando o conheci, que se me desvendava uma Doutrina tão racional, em minha expectativa teria uma opinião próxima a do primeiro parágrafo, mas vejamos o que Kardec pergunta e qual a resposta dos Espíritos em O Livro dos Espíritos:

907. Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na Natureza?
Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.

Que maravilha de resposta! O princípio que origina as paixões foi colocado em nós para o bem. Não é apenas uma trama cruel de nossos genes ou uma armadilha psicológica. É bem verdade que a paixão, assim como todos os sentimentos, tem uma fundamentação biológica.
O corpo humano é um complexo concebido para manifestar as possibilidades do ser espiritual, assim como responde ao comando mecânico de nossa vontade, é preparado para responder emocionalmente de forma que os hormônios desencadeiam uma série de reações que conhecemos muito bem quando estamos com raiva, ou quando estamos apaixonados.
Também é verdade dizer que ao nos apaixonarmos projetamos nossas necessidades e expectativas no outro, de forma que o outro se torna a ilusão do que sonhávamos para atender nossas necessidades e caprichos.
Mas a paixão só é destruidora para as almas inferiores porque as pessoas desequilibradas não conseguem ter domínio sobre a paixão e usufruir dela moderadamente. A paixão, assim como qualquer outra coisa, torna-se-lhes um fator de desequilíbrio.

908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?
As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.

Diria que o desequilíbrio é uma criação do nosso ego e não está necessariamente no princípio que gera a paixão. A paixão é em princípio o deslumbramento, o interesse, o fascínio e a admiração. É uma sensação de sentir que algo ou alguém é especial e que há uma magia em torno deste algo ou alguém e esta magia nos mantém cativados e ligados a este ser ou objeto. Está relacionada com uma sensação de incompletude que impulsiona a humanidade ao progresso.
Se o ser humano fosse completo e acabado ele não se apaixonaria por nada. É a incompletude que o faz buscar algo e/ou alguém que lhe dê alguma compensação emocional. É por isso que dizem os Espíritos que o princípio das paixões foi colocado no homem para o seu bem e a paixão o tem feito realizar grandes coisas em benefício do seu progresso:

As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.
Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como conseqüência um mal qualquer.

O que combatem os Espíritos é a situação em que a paixão fortalece nossa natureza animal e nos distancia da natureza espiritual. Quando a paixão é direcionada para um ideal nobre, para uma grande realização, ela é sempre positiva. O problema é que ela tem sido usada apenas para a realização de nossos interesses mesquinhos e egoístas. (...)


(Trechos extraídos do artigo “A paixão… ah… a paixão!, de Breno Henrique de Souza, para o site Espiritismo.net)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Amigos! Esse blog é de vocês. Nos alegramos muito com a sua colaboração!

Foto: Mar da Galileia (*Pixabay) Irmãos, que alegria estarmos todos aqui neste ambiente de paz, amor, fraternidade e luz, muita...