sábado, 28 de fevereiro de 2015

TODO CÃO É FIEL

Tenho um irmão amado que mora em Faxinal do Soturno: Miguel, juiz, pai do Murilo e casado com Milena.

É o caçula de casa, o único que se dá bem com toda a família e o mais quieto e sábio, talvez porque foi o último a chegar nas brigas e descobriu que eram insolúveis e não valeria a pena perder tempo com elas.

Ele cuida de dois cachorros. O mais novo, um salsicha, o Mandi, foi atropelado na frente do Miguel. Escapou de um passeio vigiado na residência e se animou a atravessar a rua de repente.

Diante do estrondo das rodas, do rasgo do freio e do latido esganiçado, Miguel correu para socorrê-lo.

Mesmo abatido, mesmo morrendo, o cachorro mexeu o rabo ao ver seu dono.

Destroçado, encolhido na frieza das pedras, fez um esforço colossal de mexer o rabo para festejar as mãos de Miguel em sua cabeça.

Apesar de ferido e sangrando, alheio a sua condição agonizante, mexeu o rabo, esta mão prodigiosa que o cachorro tem além das patas, esta antena do coração, esta risada do corpo.

Mesmo soltando seu último suspiro, mesmo desesperadamente doendo, o cachorro mexeu o rabo ao ver o Miguel próximo.

Mesmo no pior momento de sua vida, ele encontrou um instante de felicidade e ternura, e acenou com o rabo, quis demonstrar para Miguel que o amava.

Mexeu o rabo de agradecimento. Mexeu o rabo de comoção. Mexeu o rabo, como sempre mexeu o rabo, quando Miguel chegava do trabalho e perguntava pelo seu nome pelos corredores. Nada mudaria seu hábito de mexer o rabo. Nada arrancaria dele o gesto puro e repetido dia a dia.

Nem o fim impediu sua declaração. Nem a falta de ar, o medo, a angústia de não estar mais entre nós para sempre.

Ficou mais feliz de ver Miguel do que triste de morrer.

Ele é um exemplo de como não ser tragado pela infelicidade.

O quanto não devemos nos afundar na angústia, seremos maiores do que as fatalidades e os reveses, pois poderemos agradecer o que somos e o que recebemos.

Ainda que nossa vida esteja perdida, temos uma chance de eternizá-la ao nos entregar para a amizade do outro.

Miguel mexeu os olhos em resposta. Sem ter certeza se estava rindo pelo carinho surpreendente de seu cão naquele momento ou chorando pelo acidente trágico.

As lágrimas escorriam, ao mesmo tempo, de contentamento envergonhado e de dor exagerada. Não conseguia separar os sentimentos.

Isto é a grandeza do humano, a imprevisibilidade do amor, que também mora na alma dos cachorros.

(Fabrício Carpinejar)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

INVEJA

Inveja. Eis um dos sentimentos mais torpes e difíceis de serem eliminados da alma humana. Trata-se de um dos vícios que mais causa sofrimento à humanidade. Onde houver apego à materialidade das coisas, notadamente em seu significado, naquilo que o objeto de desejo simboliza em termos de bem-estar e status quo, aí estará a inveja, sobrevoando os pensamentos mais íntimos qual urubu ou abutre insaciável, esfomeado pela carniça. A cobiça é o seu moto-contínuo.

Há pessoas que se colocam como cães de guarda, sempre alertas ao menor ruído. Basta alguém se destacar em alguma área, por mais ínfima que seja e lá estará o invejoso, pronto para apontar o dedo e tentar minimizar o feito de seu próximo. Uma roupa diferente, um calçado da moda ou mesmo um brico ou pulseira bem colocados, já torna-se motivo para elogios, nem sempre sinceros. As mulheres, e que me perdoem as mulheres, elas são pródigas nesse tipo de expediente.

COBIÇA E BEM-ESTAR

Torna-se necessário, contudo, diferenciar a inveja, a cobiça, da busca do bem-estar. Não há nada de errado em trabalhar para se conquistar o conforto necessário à subsistência e às condições materiais imprescindíveis, visando o aprimoramento e a eficiência em determinada atividade, sem causar prejuízo ao próximo. Se alguém possui um objeto ou uma virtude que nos falta, desejá-los com humildade e sinceridade não é inveja. 

Todavia ela surge, graciosa e sedutora, quando sentimos uma sensação de perda, um vazio não preenchido pelo objeto de desejo, principalmente quando, numa formulação mental mesquinha e destrutiva, nos consideramos muito mais dignos do que aquele que possui o que não temos.

902. É repreensível cobiçar a riqueza com o desejo de praticar o bem?
 O sentimento é louvável, sem dúvida, quando puro. Mas esse desejo é sempre bastante desinteressado? Não trará oculta uma segunda intenção pessoal? A primeira pessoa a quem se deseja fazer o bem não será muitas vezes a nossa? 
(O Livro dos Espíritos)

A acepção desta pequena palavra, contida no dicionário Aurélio, é deveras interessante. “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio.” Os Espíritos que perturbam a nossa relativa felicidade, erroneamente chamados de obsessores, a fim de nos ver nivelados ao seu estado de inferioridade moral, agem movidos pela inveja.

Invejosos eram os fariseus e os saduceus na época de Jesus de Nazaré. Invejoso foi Judas. E Barrabás, ao se ressentir do carisma que o mestre possuía naturalmente em profusão, sem precisar lançar mão de artifícios, poses e posturas afetadas, às vezes até necessárias para um político profissional.

Quantos reis e rainhas não foram massacrados, mortos em circunstâncias misteriosas, efeito direto dessa viciação moral? A chamada “puxada de tapete”, que ocorre nas empresas, nos vários locais de trabalho, inclusive na família e onde quer que se reúnam pessoas, sempre acontece sob inspiração desse vício hediondo e asqueroso.

TRIO DE FERRO

A vaidade e o orgulho, esses dois gigantes da imoralidade, filhos diletos do egoísmo, combinados proporcionalmente com a inveja, formam um trio de ferro corrosivo, uma espécie de três mosqueteiros às avessas. Um triunvirato repugnante e nauseabundo, espécie de tríade repulsiva e sinistra.

Se nos consideramos mais merecedores do que o próximo que tenha aquele belo carro do ano, imaginando que seria mais “justo” que aquele objeto fosse de nossa propriedade, essa fantasia traz consigo um ranço de origem, proporcionado pela inveja.

Em função desse sentimento mesquinho, muitos grupos espíritas se dividem (aliás, o movimento espírita cresce mais por divisão do que por uma multiplicação previamente planejada) na busca tresloucada de espaços de trabalho, na direção de determinadas atividades, no exercício do poder. É muito comum vermos subgrupos dentro de um mesmo grupo, a popular panelinha, um tipo de trincheira, um gueto mesmo, que se arma contra os que conquistaram, ao longo do tempo, o seu espaço por mérito moral e intelectual.

Esses grupelhos promovem fofocas, queimam pessoas, malham as legítimas lideranças como se fossem Judas, desmerecem o trabalho realizado e promovem intrigas. Tudo por inveja. Não há dor de cotovelo que suporte o sucesso alheio. É por isso que a cobiça, a avidez desmesurada e destrutiva proporcionam um quadro de morbidez e infelicidade para aquele que se alimenta desse sentimento maligno.

O INVEJOSO EM AÇÃO

O invejoso não suporta ver um novato invadir espaços que ele, em sua santa indolência, deixou de ocupar por pura incompetência e comodismo. Se sente atingido, usurpado e se agarra, com unhas e dentes, ao espaço que ele acha que é seu e somente seu. Uma sutileza interessante, já que o homem pré-histórico, movido pelo instinto brutal, destroçava o seu algoz, a fim de se apropriar de seus pertences. O tempo passou, a evolução se processou como convém à estrutura das leis naturais, mas o princípio permanece o mesmo.

O invejoso passa para o boicote, vai minando com fofocas e pequenas atitudes estrategicamente montadas, a fim de destruir o novo trabalhador da Doutrina. Quer provar, ao menos para si mesmo, que o espaço é dele, e somente dele.

Do micro-universo do centro à macro-estrutura do movimento espírita, acontece, analogamente, a mesma situação. Os burocratas do Espiritismo brasileiro, cercados por seus porta-vozes, asseclas e pseudo-intelectuais, se arrepiam só em pensar na perda do poder. Quando algum grupo surge, contestando sua concepção doutrinária e seus esquemas, tratam logo de persegui-lo, taxando-o de antro de obsedados, de anti-fraternos, anti-espíritas etc.

Não dá para negar que muitos até escrevem livros atacando esses grupos, se esmeram na elaboração de artigos e fazem palestras, movidos pela boa intenção. Mas será que, no fundo, não há também uma razoável dose de inveja do vigor da juventude intelectual e moral que, inevitavelmente, agride os indiferentes?

INSTINTO DEGENERADO

A inveja é uma das facetas do instinto de destruição degenerado, estagnado, pois ela conduz o invejoso ao extermínio, ao transtorno e à ruína de si mesmo.

“Puxa, que belo quadro, gostaria de tê-lo pintado!”

“Que livro interessante, desejaria tê-lo escrito!”

“Caramba, por que não tive essa idéia antes!”

Se o sentimento de surpresa diante de uma obra, de um feito ou de uma rara virtude for digno e generoso, não há inveja. Trata-se apenas de um incentivo, um grande estímulo para que nos empenhemos em adquirir novas virtudes, produzir quadros mais belos se formos artistas, textos mais requintados se formos escritores, tortas mais saborosas se formos um mestre-cuca.

O Espiritismo nos ensina que as pessoas que agem de modo desinteressado, com benevolência e ternura, de forma natural, sem afetações, sem hipocrisia, são como velhos guerreiros que no passado já autoconstruiram e conquistaram sua grandeza moral. Ter o desejo de se comportar como essas pessoas não é inveja. Se fosse, seria uma inveja deveras singular.

Daí que o modelo de virtude eleito pelo Espiritismo, Jesus de Nazaré, torna-se ao menos para nós, ocidentais, uma referência longínqua e ao mesmo tempo muito próxima, uma baliza, um marco para a busca necessária da virtude, de uma ética condizente com as leis naturais.

A VIRTUDE

Segundo Platão e Sócrates, virtude não se ensina. A virtude (aretê) nada tem de opiniático. Trata-se de um dom ofertado por Deus, segundo a concepção socrática. Mas virtude é conhecimento, e como tal, segundo os gregos, não pode ser ensinada. Ou seja, não é uma técnica, um conhecimento formal, que possua o mesmo sentido lógico e racional de uma equação matemática ou mesmo de um teorema. Esse aforismo conhecer a si mesmo, a grande máxima inscrita no Templo de Delfos e adotada por Sócrates, é um dos fundamentos de sua doutrina. 

Com Sócrates e Platão entendemos que aprender é recordar, relembrar, é rever, revisitar. Eles eram reencarnacionistas e inauguraram uma concepção toda nova do que se convencionou chamar de alma (psiquê), algo imponderável e que sobrevive à matéria. Não foi à-toa que Allan Kardec os considerou, e com razão, como precursores do Espiritismo.

Essa questão da virtude, na história da filosofia, é uma das muitas questões ainda em aberto. Os neo-platônicos, existencialistas, marxistas, positivistas, neo-evolucionistas, e outros istas não se entendem em relação a essa questão. Nem mesmo os espiritistas. Intelectuais espíritas, de mentalidade cristã e formação religiosa, possuem pontos de vista nem sempre compatíveis com espíritas de mentalidade laica e formação mais filosófica e científica.

Segundo o Espiritismo, a evolução moral nem sempre acompanha a evolução intelectual. No processo evolutivo é necessário primeiramente o conhecimento do bem e do mal, somente possível em função do desenvolvimento do livre-arbítrio, consequência natural do aprimoramento intelectivo. A evolução moral é uma consequência da evolução intelectual. “A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo” ( LE - p. 780-b).

A virtude, segundo o Espiritismo, é uma qualidade primária, um atributo, uma característica variável em função do nível evolutivo do Espírito, o sujeito pensante, que sente, reflete e age. A virtude é uma propriedade moral adquirida, consquistável. Segundo Kardec, “aquele que a possui a adquiriu pelos seus esforços nas vidas sucessivas, ao se livrar pouco a pouco das suas imperfeições” (O Evangelho Segundo o Espiritismo - Introdução).

Para se combater os vícios, nada melhor do que aprimorar as virtudes, com conhecimento de causa. Aí está a chave da questão. O ato de reprimir as viciações é sempre louvável, mas se não vier acompanhado de um processo de autoconhecimento, de autopercepção, não terá sentido. Sem uma atitude racional, sem o devido bom senso, o que temos é a hipocrisia, a repressão cega e insensata com o verniz da virtude piedosa, uma usina produtora de sepulcros caiados.

A EDUCAÇÃO

O Espiritismo nos oferece uma compreensão racional muito bem fundamentada na observação, na experimentação. A base de todas as viciações se acha no abuso das paixões. “As paixões são como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa.” (LE - p. 908).

O princípio das paixões não é um mal. O mal está no exagero, nos excessos e nas consequências nefastas que possam existir quando há o abuso. Segundo o provérbio latino, “o abuso não desmerece o uso”.

A saída que o Espiritismo propõe é a educação. Nesse sentido, podemos afirmar que, ao contrário dos filósofos clássicos, a virtude pode ser ensinada, não no sentido tecnológico, formal, mas como um conjunto de caracteres passíveis de serem moralmente formatados.

O comentário de Allan Kardec, a esse respeito, é bem elucidativo: “A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam plantas novas. Essa arte, porém, requer muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa.” (LE - p. 917)

A educação segundo o Espiritismo é moralizante. O moralismo hipócrita não cabe em seus princípios. A educação espírita é libertária sem ser libertina. Ela não é religiosa; é cultural, reflexiva e tolerante.

Trabalho, solidariedade e tolerância, o lema que Kardec adotou para si se constitui, em termos sintéticos, numa atitude entusiasta e viril diante da vida. Sentimentos viciosos como a inveja, o orgulho, a hipocrisia, dentre tantos outros, se esvaem, tendem a se diluir e se reordenar diante do processo de transformação moral que o Espiritismo propõe, na incessante busca da sabedoria e da virtude.

(Eugênio Lara) 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

DETOX



E nós achamos que o marco dos três anos é um excelente momento para um... 

DETOX! 

Porque a saúde não mora só no corpo.

Passou o natal, passou o ano novo, passou o carnaval. The game is over e a vida real pede passagem. É nessa hora que a febre detox-vida-nova-entrar-nos-eixos vem com força ainda maior- se é que isso é possível.

Detox vem da ideia de desintoxicar, tirar do corpo tudo o que não lhe faz bem. Louvável, sem dúvida nenhuma. Mas o problema começa quando as pessoas resolvem achar que duas garrafas de suco verde são a milagrosa solução para melhorar suas vidas.

2015 tá aqui na nossa frente e de nada vai adiantar desintoxicar o corpo, se a vida e a alma estão povoadas de hábitos, pessoas, dias e caminhos tóxicos. Parasitas, comodismos, vícios, medos.

Gente tóxica é o que mais tem. Gente cinza, amarga, invejosa, gente que gosta de problema, que gosta de doença, que gosta de discórdia, gente que vive de aparência, gente rasa. E não tem jeito, temos que fugir mesmo, cortar, evitar ao máximo. Bom dia, boa tarde e até logo. Não nos deixemos contaminar.

Não adianta comer chia toda manhã se a gente odeia o emprego e já sai de casa com vontade de voltar. Não dá para achar que o corpo vai estar puro se você não acredita no que faz e passa mais de 40 horas da semana ruminando tarefas infelizes.

Não adianta beber 3 litros de água por dia quando se está num relacionamento que afundou. É cômodo, todos sabemos. Mas a vida é uma só e não dá para ver os dias, meses e anos passarem com migalhas de amor e sem vestígios de paixão.

Não adianta colocar linhaça nas receitas quando só se reclama da vida, dos outros, do país, do calor, da chuva, do trânsito. É um círculo vicioso, quanto mais a gente fala das coisas ruins, menos atenção a gente dá às coisas boas e a vida vai ficando ruim, ruim, ruim.

É ilusão achar que a mudança vem de fora para dentro. Que a felicidade e a saúde cabem em embalagens plásticas com códigos de barra. Produtos podem ser ótimos coadjuvantes nessa busca, mas a verdadeira mudança é só o protagonista quem faz.

E eu quero um 2015 detox.

Detox de dias iguais.

Detox de gente ruim.

Detox de maus hábitos.

Detox de inveja.

Detox de relações doentes.

Detox de obsessões.

Detox de pessimistas.

Detox de medo de mudar.

Detox de dias desperdiçados.

Detox de sentimentos pobres.

Detox de superficialidade.

Detox de vícios.

Detox de viver por viver.

E pra fazer detox na vida é preciso coragem. Coragem para mudar, para arriscar, para romper, para fechar ciclos que há muito tempo deveriam ter terminado. O ano oficialmente começou e a pergunta é: vai ter só suco verde ou vai ter detox na vida?


(Ruth Manus)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

AMOR, IMBATÍVEL AMOR

O amor é substância criadora e mantenedora do Universo, constituído por essência divina.

É um tesouro que, quanto mais se divide, mais se multiplica, e se enriquece à medida que se reparte.

Mais se agiganta, na razão que mais se doa. Fixa-se com mais poder, quanto mais se irradia.

Nunca perece, porque não se entibia nem se enfra­quece, desde que sua força reside no ato mesmo de doar-se, de tornar-se vida.

Assim como o ar é indispensável para a existência orgânica, o amor é o oxigênio para a alma, sem o qual a mesma se enfraquece e perde o sentido de viver

É imbatível, porque sempre triunfa sobre todas as vicissitudes e ciladas.

Quando aparente — de caráter sensualista, que bus­ca apenas o prazer imediato — se debilita e se envene­na, ou se entorpece, dando lugar à frustração.

Quando real, estruturado e maduro — que espera, estimula, renova — não se satura, é sempre novo e ideal, harmônico, sem altibaixos emocionais. Une as pes­soas, porque reúne as almas, identifica-as no prazer geral da fraternidade, alimenta o corpo e dulcifica o eu profundo.

O prazer legítimo decorre do amor pleno, gerador da felicidade, enquanto o comum é devorador de ener­gias e de formação angustiante.

O amor atravessa diferentes fases: o infantil, que tem caráter possessivo, o juvenil, que se expressa pela insegurança, o maduro, pacificador, que se entrega sem reservas e faz-se plenificador.

Há um período em que se expressa como compen­sação, na fase intermediária entre a insegurança e a ple­nificação, quando dá e recebe, procurando liberar-se da consciência de culpa.

O estado de prazer difere daquele de plenitude, em razão de o primeiro ser fugaz, enquanto o segundo é permanente, mesmo que sob a injunção de relativas aflições e problemas-desafios que podem e devem ser vencidos.

Somente o amor real consegue distingui-los e os pode unir quando se apresentem esporádicos.

A ambição, a posse, a inquietação geradora de in­segurança — ciúme, incerteza, ansiedade afetiva, cobran­ça de carinhos e atenções —, a necessidade de ser ama­do caracterizam o estágio do amor infantil, obsessivo, dominador, que pensa exclusivamente em si antes que no ser amado.

A confiança, suave-doce e tranqüila, a alegria na­tural e sem alarde, a exteriorização do bem que se pode e se deve executar, a compaixão dinâmica, a não-posse, não-dependência, não-exigência, são benesses do amor pleno, pacificador, imorredouro.

Mesmo que se modifiquem os quadros existenci­ais, que se alterem as manifestações da afetividade do ser amado, o amor permanece libertador, confiante, in­destrutível.

Nunca se impõe, porque é espontâneo como a pró­pria vida e irradia-se mimetizando, contagiando de jú­bilos e de paz.

Expande-se como um perfume que impregna, agra­dável, suavemente, porque não é agressivo nem em­briagador ou apaixonado...

O amor não se apega, não sofre a falta, mas frui sempre, porque vive no íntimo do ser e não das gratifi­cações que o amado oferece.

O amor deve ser sempre o ponto de partida de to­das as aspirações e a etapa final de todos os anelos hu­manos.

O clímax do amor se encontra naquele sentimento que Jesus ofereceu à Humanidade e prossegue doan­do, na Sua condição de Amante não amado.

(Por Joanna de Ângelis, pelo espírito de Divaldo Franco, no livro Amor, Imbatível Amor)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

PRECONCEITO

Dizem alguns psicólogos que os preconceitos geralmente estão ligados a três causas, que se interligam: a ignorância (falta de conhecimento sobre determinado assunto), sempre acompanhada de teimosia; o medo do que é desconhecido (da tuberculose, da Aids, da lepra...) e o orgulho, chaga da humanidade - segundo Allan Kardec é raiz de todos os males. 

As conseqüências dos preconceitos são terríveis, levando à discriminação, à marginalização, à violência, a antagonismos que conduzem a débitos dolorosos. 

O Espiritismo aniquila qualquer forma de preconceito, através de seguros e comprovados esclarecimentos: 
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (O Livro dos Espíritos questão 1, ed FEB); todos temos o mesmo destino: a felicidade plena através da conquista de perfeição relativa, alcançada paulatinamente nas diversas encarnações; reencarnamos seguindo planejamento prévio com vistas a resgatar erros pretéritos, ultrapassar provas solicitadas e realizar missões ainda que pequenas; desse modo em cada encarnação vivenciamos determinadas situações, financeira, social, física, familiar, etc... exatamente as que nos são necessárias ao aprendizado e à evolução; Deus ama a todos os seus filhos igualmente, sem protecionismo. 

Por conseguinte somos todos iguais, irmãos. 

Preconceito é anti-evangélico, irracional absurdo. 

A convicção lógica da reencarnação e a certeza da justiça e do amor divinos o destrói. 

O espiritismo nos ensina que o valor real de cada um de nós não está na aparência, mas no que pensamos, sentimos e agimos de acordo com as leis divinas, seguindo os ensinamentos do Mestre Nazareno, que é para nós “o Caminho, a Verdade e a Vida”

Busquemos a verdade que anulará o medo e destruirá o orgulho, elevando-nos rumo ao Pai Criador!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

LUXÚRIA

Luxúria significa intenso desejo pelo corpo, apego aos prazeres carnais, corrupção dos costumes, lascívia, promiscuidade.

A luxúria é vício que atua como força contrária à dignidade do ser humano, desvirtua e degrada a dimensão sexual.

Vimos, diante dos inúmeros estudos encetados, inclusive em posicionamentos não kardecistas, que o conceito de luxúria transita pari passu com o estado de ânimo dos espíritos.

As obras do Pentateuco não são dogmáticas sobre nenhum assunto e não trataram de forma diferente a sexualidade. Portanto, não ferem de rijo sobre o que queira significar a luxúria para os espíritas.

Pelo que pude perceber, a luxúria é uma daquelas cláusulas gerais, onde o operador do espiritismo deve manejar os princípios que o regem e, a partir daí, manejá-los ao caso concreto.

Claro que muitas obras, mormente as psicografadas, tentaram ferir o tema, mas não há uma pá-de-cal sobre a questão, mesmo porque estamos diante dos tempos de transição entre o mundo de provas e expiações e os de regeneração.

Mas algumas ponderações podem aclarar a mente daquele que se debruça sobre a questão e, quem sabe, colaborar para a formação de um pensamento ímpar, que diz respeito a cada indivíduo.

Passemos a elas:

1 – Como o Espiritismo analisa a questão da castidade e virgindade pregada como lei divina e virtude moral gloriosa, símbolo de pureza e santidade que deve ser praticada até o casamento?

A ideia de manter-se casto surge em primeiro lugar com o apóstolo Paulo, que ensinava que tudo é lícito, mas nem tudo convém. Paulo achava que, abrindo mão do sexo e do casamento, os homens poderiam dedicar-se de corpo e alma à causa cristã.

Mais tarde, com Santo Agostinho, a ideia de castidade ganhou força. Ele era obcecado por sexo e, ao libertar-se do desejo – muito por causa da idade - teve a má ideia de acusar o sexo como uma coisa totalmente negativa, como se o sexo, em si, fosse o culpado pelo desejo desenfreado das pessoas. Mesmo dentro do casamento, tinha-o por sujo e feio.

Essas são opiniões.

Jesus não se manifestou a respeito.

Mas pelo que vemos de diversas publicações, sexo não é sujo, nem feio, nem errado. Sexo é troca de energias, e energias divinas, pois através delas as pessoas são atraídas umas às outras e nós temos a oportunidade de reencarnar. Sexo deve ser feito com afeto e responsabilidade, pois somos corresponsáveis pelo que despertarmos no outro.

Pelas energias que movimenta e pelas emoções que desperta, a prática sexual requer maturidade. Somos responsáveis pelos nossos pensamentos, palavras e ações, sempre. Com o sexo não é diferente. Se há afeto e responsabilidade, o sexo é troca de energias divinas. Se o que há é só desejo carnal, a prática sexual é manifestação de instintos animais que ainda sobrevivem em nosso íntimo. E esses sim, irracionais que são, ferem o caminho de dignidade e evolução de nosso espírito. São esses instintos que trazem as conexões com energias mais densas.

2 – Como a Doutrina analisa a sentença da Igreja Católica que fala que a Justiça Divina poderá corrigir com duros revezes as pessoas que exercerem o sexo desvinculado e fora do casamento, mesmo que essas pessoas justifiquem o ato dizendo que o fizeram com amor e com respeito ao parceiro? Do ponto de vista espírita não haveria algum carma negativo no ato sexual pelo prazer, simplesmente, sem o compromisso de namoro sério?

O posicionamento das Igrejas a esse respeito reflete a opinião dos teólogos, não a orientação de Jesus. Se Jesus julgasse importante que o sexo só fosse praticado estritamente dentro do casamento, ele teria se pronunciado a respeito.

Carma é uma palavra do sânscrito que quer dizer ação. A toda ação corresponde uma reação. Ao nos envolvermos sexualmente com alguém, somos responsáveis pelo que este envolvimento possa gerar, fisicamente, emocionalmente, moralmente. Por isso a necessidade de respeito e afeto. O sexo só por prazer, mesmo que praticado com o consentimento dos envolvidos, pode ocasionar sequelas emocionais, como sensação de culpa, arrependimento ou a paixão sem reciprocidade. Responderemos pela eventual dor ou desequilíbrio que causarmos em quaisquer pessoas.

3 – Como a doutrina enxerga a liberdade sexual da mulher? Como algo positivo ou como algo degradante nos dias atuais?

Homens e mulheres são espíritos, portanto, têm direitos e deveres iguais.

4 – Como o Espiritismo vê os casais amasiados? Eles estariam vivendo em desacordo com a Lei Divina ou não?

A palavra “amasiado” deriva do latim “amare”, amar. Se é realmente o amor que prevalece, não há nada a ser reprovado. A Lei Divina não estabeleceu normas para a união de duas pessoas que se querem bem. O casamento civil e religioso é invenção dos homens. Somos espíritos, e para o espírito não faz diferença uma folha de papel ou as palavras sacramentais decoradas por um religioso, por mais respeitável que seja.

O amor é do espírito, não da matéria. Os espíritos unem-se por afeto, não por práticas.

É bom lembrar que a Doutrina Espírita não é um código de certo X errado, de pode X não pode. A Doutrina Espírita enfatiza, sempre, a consciência livre. Não há proibições, o que há é a proposta de conscientização de nossas responsabilidades. Tudo envolve intenção e responsabilidade.

5 – O pensamento religioso dogmático cristão prega que o único lugar para o ser humano manifestar o seu impulso sexual que agrada a Deus é dentro do matrimônio, fora dele tudo é pecado… tipo: sexo solitário, masturbação a dois, toques em partes íntimas, pornografia, olhares ardentes, visualização de pessoas nuas ou seminuas, fantasias sexuais com alguém não casado, fetiches e intensos desejos de prazeres. Como a Doutrina Espírita esclarece essa questão?

A questão sexual exige muito cuidado pelo grau de energia que envolve o sexo. Sempre sintonizamos com os espíritos, encarnados ou desencarnados, que mantêm os mesmos desejos, ideias, sentimentos e ideais que nós. Focando-nos no sexo, real ou imaginário, com ou sem o estímulo de imagens, estamos sintonizando com milhares de mentes que alimentam esses mesmos desejos. Nosso desejo inicial, então, é potencializado pela soma dos mesmos desejos externalizados por milhares de mentes sedentas de sexo.

A prática sexual, seja ela qual for, requer afeto e responsabilidade.

A linguagem primordial do espírito é o pensamento. Pelo pensamento entramos em sintonia com os nossos semelhantes, inevitavelmente. Sexo é energia. Não convém conter essa energia forçadamente nem liberá-la sem critério. A palavra-chave, como em tudo, é equilíbrio.

A Doutrina orienta ao uso da razão. O desejo sexual exacerbado nos prende à matéria. É impossível conciliar desejo carnal e elevação espiritual. Estamos encarnados, temos corpos físicos sensíveis ao prazer e à dor, e faz parte do uso do livre-arbítrio optar pelo prazer. O prazer é necessário em nosso estágio evolutivo. A busca por prazer nos estimula ao progresso. Mas nesta busca nos movimentamos praticamente apenas nos aspectos materiais da vida, quando nosso grande objetivo é o progresso do espírito.

Sabemos que forçar a natureza tem as suas consequências. Se represarmos um rio sem lhe dar vazão, a represa pode se romper e causar grandes danos. Por outro lado, a civilização só foi possível porque o homem conseguiu usar a natureza a seu favor, construindo diques, canais e barreiras de modo a aproveitar racionalmente os recursos dos rios, em torno dos quais se formaram as primeiras cidades.

O mesmo cuidado devemos ter com o sexo. Não impedir o seu fluxo normal com barreiras estanques, mas controlar o seu fluxo para tirar dele o melhor proveito para o corpo e o espírito.

O cuidado que todos devemos ter é em relação aos sentimentos do próximo. O ideal é examinar os sentimentos antes de envolver-se sexualmente com alguém.

O Espiritismo orienta que sigamos a moral do Cristo. Se fizermos isso, naturalmente seremos responsáveis a ponto de cuidarmos da própria saúde e de zelarmos pela saúde do próximo – física e emocional.

O Espiritismo ensina que as Leis de Deus estão em nossa consciência, e, de acordo com elas, sabemos intimamente o que convém e o que não convém.

Todas as questões acima giram em torno da responsabilidade. Quem fica com alguém sem compromisso, só pelo prazer momentâneo, pode fazer isso várias vezes sem prejudicar nem a si mesmo nem ao outro. Mas não há como saber o que pode resultar de um encontro íntimo aparentemente sem compromisso.

Em qualquer contato íntimo entre pessoas há troca de energias. Elas ficam durante minutos ou horas, com ou sem relações sexuais, transitam livremente. Já o sexo forma uma ligação energética entre os parceiros que se estende por muito tempo.

Experiências por curiosidade, por modismo ou por pressão do grupo são um mergulho no desconhecido. A negligência com sentimentos, emoções e sensações energeticamente poderosas exigirá o reajuste.

Somos rodeados de espíritos que gostam do que gostamos. Nada que seja estritamente material pode atrair espíritos bem intencionados. O sexo casual, sem afeto, apenas pelo prazer, atrai muitos espíritos que sentem necessidade dessas mesmas energias. Forma-se com eles verdadeira simbiose, trocando energias e influências.

O sexo é uma dádiva de Deus e uma fonte legítima de prazer e rearmonização energética. Mas a vivência do sexo saudável pressupõe afeto.

E a razão do afeto pertence a cada um.

Recorramos ao Livro dos Espíritos:

696. Que efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento?Seria uma regressão à vida dos animais?

O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna (...).

Daqui, forçoso concluir também ser da evolução todas as demais conjugações humanas onde haja uma solidariedade fraterna!

697. Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana, a indissolubilidade absoluta do casamento?

É uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.

698. O celibato voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos de Deus?

Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo.

699. Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade?

Isso é muito diferente. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem.

Não é possível que Deus se contradiga, nem que ache mau o que Ele próprio fez.

701. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, é mais conforme à lei da Natureza?

A poligamia é lei humana cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há afeição real: há apenas sensualidade.

Aqui, é necessário um adendo: Relações não-monogâmicas não são poligamia, nem poliandria. Poligamia é onde um homem pode possuir várias mulheres, mas uma mulher não pode possuir mais de um homem. Poliandria é o oposto. Ambos são sistemas de dominação e subjugação. Dizem sobre posse, e não sobre o afeto.

Já nos relacionamentos não-monogâmicos, todos as participantes, homens e mulheres, permanecem sempre em pé de igualdade: pessoas humanas adultas que podem usar e dispor de seus corpos e sentimentos, livre e consensualmente. É importante lembrar que um relacionamento não-monogâmico é, antes de tudo, um relacionamento. Um relacionamento com pactos, compromissos, amor, planos - e o que mais as pessoas participantes consensualmente decidirem. Relacionamentos não-monogâmicos são difíceis. Trabalhosos. Quase impossíveis. As pessoas monogâmicas quase sempre encaram as não-monogâmicas como se fossem todas libertinas insaciáveis e esse conceito é absolutamente equivocado. Relacionamentos não-monogâmicos têm o mesmo potencial de luxúria que os monogâmicos. Tudo depende do afeto que une os envolvidos.

Disse Emmanuel, no livro Senda para Deus, psicografado por Chico Xavier:

Erótica

A Erótica está na alma, assim como a sede e a fome.
Tem nome de Amor em cada criatura.
No intuito de educá-la, temos nós muitas vidas.
O povo que a distorce sofre grandes problemas.
Nos santos e nos anjos, ela está sublimada.
Se alguém erra no Amor, compadece-te e ampara.
Por erótica, entenda-se ser essa energia sexual da qual todos somos dotados!

E Emmanuel nos socorre mais uma vez, desta vez no livro Vida e Sexo, também psicografado pelo Chico:

Amai, pois a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela. Desatender às necessidade que a própria Natureza indica, é desatender a lei de Deus. 

O instinto sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da vida, orientando os processos da evolução. Toda criatura consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança incomensurável das experiências sexuais, vividas nos reinos inferiores da Natureza. De existência a existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos de séculos, na esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em si mesma todo um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis superiores que governam a vida. 

(...) É fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida ou renascida sob o patrocínio do sexo, carreia consigo determinada carga de impulsos eróticos, que a própria criatura aprende, gradativamente, a orientar para o bem e a valorizar para a vida. 

Diante do sexo, não nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro para as trevas, mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do Universo situou o laboratório das formas físicas e a usina dos estímulos espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em regime de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento entre os homens.

Cada homem e cada mulher que ainda não se angelizou ou que não se encontre em processo de bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na alma, traz, evidentemente, maior ou menor percentagem de anseios sexuais, a se expressarem por sede de apoio afetivo, e é claramente, nas lavras da experiência, errando e acertando e tornando a erras para acertar com mais segurança, que cada um de nós – os filhos de Deus em evolução na Terra – conseguirá sublimar os sentimentos que nos são próprios, de modo a erguer-nos em definitivo para a conquista da felicidade celeste e do Amor Universal.

Emmanuel foi de uma perfeição ímpar nesse texto. Sou forçada a anotar, com âncoras nele, que o sexo é ferramenta de aprendizado e, como tal, pode expurgar muito do que nos afasta do Amor Universal citado: o egoísmo, a obsessão pelo outro, os julgamentos preconceituosos, os traumas, os titubeios perante nosso “eu” mais íntimos e etc.

Mister considerar que cada caso é um caso, sem desconsiderar jamais que o equilíbrio e a disciplina mental precisam ser alcançados.

Por isso o Emmanuel, no livro O Consolador, também da lavra de Chico Xavier, fecha com o primor que lhe é peculiar: 

“ao invés da educação sexual pela satisfação dos instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do sexo”.

Espero ter conseguido tratar o tema com a delicadeza, o respeito e a generosidade que ele merece! 

(Paula Duran)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O VERBO HUMANO E A PALAVRA ESCRITA

O verbo humano pode falhar, mas a palavra do Senhor é imperecível. 

Aceita-a e cumpre-a, porque, se te furtas ao imperativo da vida eterna, cedo ou tarde o anjo da angústia te visitará o espírito, indicando-te novos rumos. 

O livro é igualmente como a semeadura. O escritor correto, sincero e bem-intencionado é o lavrador que alcançará a colheita abundante e a elevada retribuição das ais divinas à sua atividade. 

O literato fútil, amigo da insignificância e da vaidade, é bem aquele trabalhador preguiçoso e nulo que “semeia ventos para colher tempestades”. 

E o homem de inteligência que vende a sua pena, a sua opinião e o seu pensamento, no mercado da calúnia, do interesse, da ambição e da maldade, é o agricultor criminoso que humilha as possibilidades generosas da terra, que rouba os vizinhos, que não planta e não permite o desenvolvimento da semeadura alheia, cultivando espinhos e agravando responsabilidades pelas quais responderá um dia, quando houver despido a indumentária do mundo, para comparecer ante as verdades do Infinito.

Os livros ensinam, mas só o esforço próprio aperfeiçoa a alma para a grande e abençoada compreensão. 

A palavra é um dom divino, quando acompanhada dos atos que a testemunhem; e é através de seus caracteres falados ou escritos que o homem recebe o patrimônio de experiência sagradas de quantos o antecederam no mecanismo evolutivo das civilizações. 

É por intermédio de seus poderes que se transmite, de gerações a gerações, o fogo divino do progresso na escola abençoada da Terra.

O livro representa vigoroso ímã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de que nascem os grandes movimentos da Humanidade.

(Emmanuel, Palavras de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

SER FELIZ

“... Assim, pois, aqueles que pregam ser a Terra a única morada do homem, e que só nela, e numa só existência, lhe é permitido atingir o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os escutam...”
(Capítulo 5, item 20.)

As estradas que nos levam à felicidade fazem parte de um método gradual de crescimento íntimo cuja prática só pode ser exercitada pausadamente, pois a verdadeira fórmula da felicidade é a realização de um constante trabalho interior.

Ser feliz não é uma questão de circunstância, de estarmos sozinhos ou acompanhados pelos outros, porém de uma atitude comportamental em face das tarefas que viemos desempenhar na Terra.

Nosso principal objetivo é progredir espiritualmente e, ao mesmo tempo, tomar consciência de que os momentos felizes ou infelizes de nossa vida são o resultado direto de atitudes distorcidas ou não, vivenciadas ao longo do nosso caminho.

No entanto, por acreditarmos que cabe unicamente a nós a responsabilidade pela felicidade dos outros, acabamos nos esquecendo de nós mesmos. Como conseqüência, não administramos, não dirigimos e não conduzimos nossos próprios passos. Tomamos como jugo deveres que não são nossos e assumimos compromissos que pertencem ao livre-arbítrio dos outros. O nosso erro começa quando zelamos pelas outras pessoas e as protegemos, deixando de segurar as rédeas de nossas decisões e de nossos caminhos.

Construímos castelos no ar, sonhamos e sonhamos irrealidades,

convertemos em mito a verdade e, por entre ilusões românticas, investimos toda a nossa felicidade em relacionamentos cheios de expectativas coloridas, condenando-nos sempre a decepções crônicas.

Ninguém pode nos fazer felizes ou infelizes, somente nós mesmos é que regemos o nosso destino. Assim sendo, sucessos ou fracassos são subprodutos de nossas atitudes construtivas ou destrutivas.

A destinação do ser humano é ser feliz, pois todos fomos criados para desfrutar a felicidade como efetivo patrimônio e direito natural.

O ser psicológico está fadado a uma realização de plena alegria, mas por enquanto a completa satisfação é de poucos, ou seja, somente daqueles que já descobriram que não é necessário compreender como os outros percebem a vida, mas sim como nós a percebemos, conscientizando-nos de que cada criatura tem uma maneira única de ser feliz. Para sentir as primeiras ondas do gosto de viver, basta aceitar que cada ser humano tem um ponto de vista que é válido, conforme sua idade espiritual.

Para ser feliz, basta entender que a felicidade dos outros é também a nossa felicidade, porque todos somos filhos de Deus, estamos todos sob a Proteção Divina e formamos um único rebanho, do qual, conforme as afirmações evangélicas, nenhuma ovelha se perderá.

É sempre fácil demais culparmos um cônjuge, um amigo ou uma situação pela insatisfação de nossa alma, porque pensamos que, se os outros se comportassem de acordo com nossos planos e objetivos, tudo seria invariavelmente perfeito. Esquecemos, porém, que o controle absoluto sobre as criaturas não nos é vantajoso e nem mesmo possível. A felicidade dispensa rótulos, e nosso mundo seria mais repleto de momentos agradáveis se olhássemos as pessoas sem limitações preconceituosas, se a nossa forma de pensar ocorresse de modo independente e se avaliássemos cada indivíduo como uma pessoa singular e distinta.

Nossa felicidade baseia-se numa adaptação satisfatória à nossa vida social, familiar, psíquica e espiritual, bem como numa capacidade de ajustamento às diversas situações vivenciais.

Felicidade não é simplesmente a realização de todos os nossos desejos; é antes a noção de que podemos nos satisfazer com nossas reais possibilidades.

Em face de todas essas conjunturas e de outras tantas que não se fizeram objeto de nossas presentes reflexões, consideramos que o trabalho interior que produz felicidade não é, obviamente, meta de uma curta etapa, mas um longo processo que levará muitas existências, através da Eternidade, nas muitas moradas da Casa do Pai.

(Hammed, Renovando Atitudes, psicografia de Francisco do Espírito Sato Neto)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

SOBERBA

Da série OS SETE PECADOS CAPITAIS, a SOBERBA: 

Soberba é um substantivo feminino, do latim supervia, que significa elevação, presunção, orgulho.

Soberbo é aquele que se acha auto-suficiente, sabe-se nobre de nascimento ou tem pretensão de superioridade sobre as demais pessoas.

A soberba se manifesta não só através de bens materiais. Muitas vezes a pessoa pode se sentir superior aos outros por acreditar que é o melhor no que faz, no que decide, na sua capacidade de resolver situações.

O soberbo tende a se mostrar, pois está enamorado com a própria existência.

O soberbo se sente auto-realizado, querendo mostrar-se para os outros a todo preço, querendo despertar a inveja e a admiração dos outros, como se isso elevasse sua estima ao máximo e lhe trouxesse prazer.

O soberbo quer superar sempre os outros, mas quando é superado, logo se deixa dominar pela inveja.

Para o soberbo, ele deve sempre estar no topo, sendo o parâmetro mais alto para as pessoas, despertando interesse e curiosidade de todos.

Quando é superado, logo o soberbo se sente ameaçado, atingido, sendo tomado pela inveja, querendo depreciar os outros e vangloriar-se

Entretanto, o soberbo não se estrutura para se superar ou até fazer uma avaliação da vida.

A correção da soberba ocorre única e simplesmente por meio da humildade.

É agindo com simplicidade que se consegue combater a soberba nas suas mais diversas formas, evitando a ostentação, contendo as vaidades e olhando o mundo não apenas a partir de si, mas principalmente ao redor de si.

O soberbo vê o mundo começando a partir de si, enquanto o correto seria que ele olhasse ao redor, comparasse, analisasse e traçasse seu caminho individualmente, com virtude e solidariedade.

Mas algumas vezes também pode-se perceber que o excesso de humildade é sinal de uma soberba focada na inferioridade.

Ou seja, o soberbo não aceita ser como a média, não aceita ser como os demais.

Ele precisa se destacar dos outros sendo o maioral.

Se não consegue ser o mais inteligente ele então desejará e será o mais ignorante, falando sobre isso o tempo todo para que, seu interlocutor ao ouvir a depreciação passe a elogiar o soberbo mesmo que seja por educação.

Mas isso bastará ao soberbo que quer ser destacado dos outros que são medianos. É a chamada “falsa modéstia”.

A soberba pode, ainda, se manifestar individualmente ou em grupo, externada em manifestações ostensivas para menosprezar e massacrar os indivíduos considerados, por eles, como seres inferiores.

O racismo, a xenofobia, o elitismo, o corporativismo, são comportamentos que se caracterizam pela soberba.

Se tem um traço de personalidade em que Deus reprova veementemente, essa chama-se soberba.

A soberba nada mais é do que o egoísmo na sua mais alta plenitude.

Uma pessoa soberba é capaz de menosprezar até o poder de DEUS.

Se o soberbo trabalhasse para o bem de todos, não encontraria ensejo de cultivar o orgulho e a vaidade que o levam a acreditar-se ponto central do universo.

Dizem alguns que a soberba é o pior de todos os pecados, mas não é uma unanimidade.

É o que levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus, e levou Adão e Eva à desobediência e ao pecado original.

Alguém disse que o orgulho é tão enraizado em nós que “só morre meia hora depois do dono”, mas nós sabemos que a soberba acompanha o espírito também no Plano Espiritual.

Por outro lado, por ser o oposto da soberba, a humildade é grande virtude, a que mais caracterizou o próprio Jesus, “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), e também marcou a vida de Maria, “a serva do Senhor” (Lc 1, 38), José, e todos os santos da Igreja.

O soberbo se esquece que é uma simples criatura, que saiu do nada pelo amor e chamado de Deus, e que, portanto, Dele depende em tudo.

Como disse Santa Catarina de Sena, ele “rouba a glória de Deus”, pois quer para si as homenagens e os aplausos que pertencem só a Deus.

Aos gálatas, Paulo diz: “Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6, 3).

Podemos dizer que a soberba é a “cultura do ego”.

Você já reparou quantas vezes por dia dizemos a palavra eu? Eu vou, eu acho, eu penso que…, mas eu prefiro…, etc….

A luta do cristão é para que essa “força” puxe-o para Deus, e não para o ego.

Jesus, nosso Modelo, disse: “Não busco a minha glória”. (Jo 8,50).

São Paulo insistia no mesmo ponto: “É porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar os homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Deus” (Gl 1,10).

A soberba é mesmo o oposto da humildade.

Essa palavra vem de “humus”, aquilo que se acha na terra, pó.

O humilde, é aquele que reconhece o seu “nada”, embora seja a mais bela obra de Deus sobre a terra, a sua glória, como dizia santo Irineu.

(Paula Duran)

Foto: Mar da Galileia (*Pixabay) Irmãos, que alegria estarmos todos aqui neste ambiente de paz, amor, fraternidade e luz, muita...