segunda-feira, 27 de outubro de 2014

RETORNO

Retornarás!
Por mais longos sejam os teus dias na Terra, durante a abençoada jornada corpórea, dia luze em que retornarás à Pátria espiritual que é o teu berço de origem e a sagrada morada onde permanecerás nas emprêsas do porvir...
Medita!
Absorvida pela atmosfera, a linfa cantante flutua na nuvem ligeira para retornar ao seio gentil da terra que a conduzirá logo mais aos imensos lençÓis dágua do subsolo, que afloram em correnteza can­tante, mais além.
A semente exuberante enclausurada no fruto que balouça nos dedos da árvore retorna ao âmago do solo generoso donde prevejo.
Também o homem.
Afastado do círculo donde procede em excursão de lazer ou refazimento, de trabalho ou produtivi­dade, de estudo ou repouso sente o chamado lon­gínquo dos amôres da retaguarda, retornando logo para o labor em que as emoções se renovam e as esperanças se realizam.
Muitos cantam a Pátria com o seu magnetismo e as suas tradições, explicando as evocações e os impulsos heróicos dos homens, seus sonhos de glória e suas lutas de sacrifício. Assim, também, a Pátria do Espírito sempre presente nos painéis mentais como paisagens etéreas, porém vivas, lon­gínquas, no entanto latejantes, murmurejando sal­modias, que se transmudam, às vêzes, em melanco­lias longas e tormentosas ou excitantes expectativas que exaltam o ser a providências sublimantes...
Considera a lição necessária do retôrno.
Como organizas equipagem, mimos e lembran­ças, arquivas roteiros e assinalas fatos para futuras narrações e imediatos aprestos, prepara a bagagem com apuro e justeza, demorando-te em vigília para quando chegue o esperado momento da volta.
Retornarás, sim! Vive, pois, de tal modo, na laboriosa escola do corpo disciplinado e em equilíbrio, que facultem uma valiosa colheita de bênçãos a se transformarem em luzeiro clarificante para o caminho espiritual por onde retornarás.

“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida”.
1ª Epístola de João: capítulo 3º, versículo 14.

“Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: “Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho”; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor próprio e nos gozos mundanos: “Nada vos toca, pois que rece­bestes na Terra o vosso salário. Ide e re­começai a tarefa”.
Capítulo 5º — Item 12, parágrafo 5.


(Do livro “Florações Evangélicas”, de Divaldo P. Franco)


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

MEU FILHO

O que segue é uma tradução.

O texto original é da Dra. Shefali Tsabary, psicóloga e autora do consagrado livro "The Conscious Parent".

“Meu filho não é minha tela para pintar
Nem meu diamante para polir.

Meu filho não é o meu troféu para mostrar ao mundo
Nem minha medalha de honra.

Meu filho não é uma ideia, uma expectativa ou uma fantasia
Não é meu reflexo nem meu legado.

Meu filho não é o meu fantoche ou um projeto
Não é a minha batalha ou o meu desejo.

Meu filho está aqui para gaguejar, tropeçar, tentar e chorar
Aprender e se atrapalhar.
Errar e tentar de novo.
Ouvir o som da batida de um tambor tímido para nossos ouvidos adultos
E dançar para uma música que se revela na liberdade.

Minha missão é caminhar ao seu lado,
Estar perto na possibilidade infinita,
Curar minhas próprias feridas,
Preencher meu próprio vazio
E deixar meu filho voar.”



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MEU LUXO É CLICHÊ

Ontem acabaram minhas férias, quinze dias de puro luxo.
Como já disse Danuza Leão, existem luxos e luxos.

 Obedecendo a cartilha da colunista, estive em Buenos Aires com o livro "De malas prontas" debaixo do braço, cheio de dicas.
 Seguimos a recomendação de tomar o chá da tarde no Alvear, hotel tradicional do bairro Recoleta.
Sentados diante de uma mesa com porcelana centenária e canapés minimalistas, olhava para os lados e me perguntava quem é que estava se divertindo ali.
Tudo bem, de vez em quando é bom entrar no clima, tomar uma taça de champagne no meio da tarde com o marido, mas aquilo de beliscar micro-sanduichinhos e comer tortinhas decoradas com frutas em compotas, certamente não faz parte de minha natureza nem do meu "requinte".

 Dias depois, de volta ao meu ninho, o frio chegou a Campinas. Numa tarde de puro ócio com meu filho, partimos para o clássico piquenique na cama.
Ele decidiu fazer uma barricada de almofadas e cobertor, enquanto preparei pão de queijo e chocolate quente.
Um clichê luxuoso acompanhado da série "Anos Incríveis" (tenho os episódios gravados da 'Cultura', e meu menino não conhecia).
A poesia do seriado nos preencheu duas tardes inteiras, e lá pelas tantas perguntei afirmando: "Nosso lanche tá melhor que aquele chá do hotel chique em Buenos Aires, não é?" , ao que ele respondeu de boca cheia: "Bemmm melhor..."

 Cheguei à conclusão que meu luxo é clichê. Não tem relação com dinheiro, e sim com a forma de usufruir a rotina ou simplesmente pausar o instante a fim de percebê-lo melhor.

 Meus luxos são clichês, tão comuns como assistir "Anos Incríveis" na cama, numa tarde chuvosa.
 Buscar o filho na escola e comprar um saquinho de pipoca na saída; tomar um café fresco na xícara de estimação enquanto escuto Chico Buarque cantar "Carolina" e pensar que poderia chamar-me Carolina também, e ter aqueles olhos tristes cheios de sentimento e poesia; assistir pela milionésima vez "Era uma vez na América" e me encantar_ de novo _ com Robert de Niro, com a trilha sonora e com a emoção que o filme desperta; ganhar de presente um livro novo, de um autor desconhecido, ficar embasbacada com a forma que ele escreve e querer escrever assim também; tomar uma taça de vinho no jantar, mesmo sendo segunda feira, e ficar engraçada de repente, fazendo o marido rachar de rir; ouvir um elogio sincero; ter vontade de fazer um elogio sincero; colocar o filho pra dormir e ganhar um abraço de urso; sol de inverno no rosto; quentão e vinho quente em copinho térmico na festa junina; lavar a louça do almoço de família enquanto minha mãe enxuga os pratos e confidencia bafos e babados de uma época feliz; assistir à reprise das novelas no "Viva" e perceber que o tempo não poupa ninguém; encontro de primos; visitar a rua que moramos na infância e reparar que a antiga residência continua igualzinha àquela que a memória guardou; ler cartas antigas e relembrar uma amizade verdadeira que ficou pra trás; réveillon na casa daquele tio saudosista que adora vinho e tangos; ganhar florzinha colhida pelo sobrinho pra enfeitar o cabelo; ligar para a avó e ela te tratar como uma criança trinta anos mais jovem; acertar a receita da lasanha e impressionar os sogros e as cunhadas; acordar no meio da noite para cobrir o filho e não perder o sono depois disso; pedir para o cabeleireiro cortar só dois dedinhos e ele cortar só dois dedinhos; receber email do pai; voltar do trabalho pra casa ouvindo Eric Clapton e pensando 'como a vida faz sentido quando se ouve Change the World...'  ; ir à terapia e notar o olhar orgulhoso da terapeuta comunicando: 'como você progrediu...'; andar no shopping de mãos dadas com meu menino de oito anos e perceber que logo logo ele irá crescer e esse costume vai passar; ajeitar o cabelo fino de minha mãe e descobrir que preciso ter mais tempo para ajeitar o cabelo fino de minha mãe; ganhar um desenho do filho em que ele me retrata mais linda e mais sorridente do que posso supôr; fazer uma lista de luxos e constatar que tenho tido uma vida luxuosa, ou _ melhor dizendo_ uma vida feliz...


(Fabíola Simões)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

PERTENÇA-SE A SI MESMO!

Este é um texto que começou devagarzinho, fruto de uma provocação que me foi feita por um livro.
Chamava-se “Quem me roubou de mim?”, do Padre Fábio de Melo, homem que eu admiro muito.

No começo, confesso que me deslumbrei um pouco com a proposta dele em descobrir quem de fato nos rouba de nós mesmos.
Depois, tomei consciência de que aquilo que ele chama de “seqüestro da subjetividade” acontece diuturnamente.
Quando interiorizei a mensagem, passei a me perguntar: Quem permitiu esse sequestro?

E quando cheguei à óbvia resposta, fiquei bastante satisfeita!
Eu! Eu permito que me roubem de mim mesma!
E isso é profundamente libertador.

Libertador, porque o cerne de tudo aquilo que eu posso pretender controlar, mudar, aperfeiçoar e evoluir sou eu mesma.
Então, se o seqüestro depende de mim, também depende de mim que eu
PERTENÇA A MIM MESMA.

E foi esta epifania que me levou a escrever algumas palavras sobre esse tema.

Pertencer.
Eu pertenço. A mim e só a mim.
Tu pertences. A você, e não a mim.
Ele pertence. A quem quer que ele queira, e isto não é problema meu. Ou seu.
Nós pertencemos a uma zona de intersecção de interesses, localizada no encontro das minhas e das suas pertenças.
Eu não pertenço a nada que não me pertença, só porque você quer pertencer.
E por aí vamos...

Feita a devida provocação, vamos problematizar.

O que é o seqüestro da subjetividade?

A palavra seqüestro já é absolutamente familiar a todos nós.
O seqüestro do corpo é uma forma de roubo.
Alguém é materialmente levado do seu meio.
O seqüestro da subjetividade se refere a outra forma de afastamento.
Neste caso, a privação mais danosa é a que sofremos de nós mesmos.

Estamos falando de um vínculo que mina nossa capacidade de ser quem somos, de pensar por nós mesmos, de exercer a nossa autonomia de tomar decisões e exercer nossa liberdade de escolha. Trata-se de um roubo silencioso que nos leva de nós.

O seqüestro da subjetividade pode acontecer em todas as instâncias de relacionamentos.
Um só descuido e as relações podem evoluir para essa violência silenciosa.
Basta que as pessoas se percam de seus referenciais, que se distanciem do verdadeiro significado de proteção, que confundam amor com posse, que abram mão de suas identidades e que se ausentem de si mesmas.

O seqüestro da subjetividade é uma forma de aliciamento.
A invasão é suave, processual.
Antes dos maus-tratos do cativeiro, a sedução da conquista.
É natural que seja assim.

Só por esses apontamentos esse texto já valeria.
Mas e o que dizer àquelas pessoas que se vangloriam e dizem “está bom pra mim assim” ou “eu seu o que estou fazendo”?
Não haveria dano em se deixar seqüestrar?

As conseqüências dessa violência são nefastas.
Nada pode ser mais cruel do que ser privado de si mesmo.
Trata-se de um crime afetivo que se desdobra em doença na carne.
A enfermidade que nasce do reconhecimento de que não fomos fiéis a nos mesmos, de que não nos empenhamos o suficiente para encontrar as chaves do cárcere que nos privava do amor que nos capacitaria a amar os outros.
Só podemos dar aquilo que temos.
Se nos falta amor-próprio, é certo que não teremos amor a oferecer.

Um mosaico é feito de partes; e essas partes se conjugam e compõem de uma única peça.
São inúmeros e pequenos detalhes que constroem a trama do mosaico.
A pequena peça é fundamental para a construção do todo, e por isso não pode ser negada, separada.

E o que fazer?
Compreendemos o problema do seqüestro da subjetividade, entendemos os danos e aprendemos a identificá-lo nos meandros da vida.
E como combater/evitar o seqüestro da subjetividade?

O evangelho é um instrumental poderoso, capaz de promover a vida e a liberdade necessária para bem vivê-la.
Jesus é o enviado que tem como missão específica salvar o ser humano de todas as amarras que o  privam de sua realização.
Ele é o Deus encarnado, o Verbo que assume a carne humana para resgatá-la de suas escravidões.
Por isso a palavra de Jesus é sempre simbólica.
Porque sua fala faz com que a pessoa ultrapasse o limite da palavra dita.
(...) a vida cristã consiste em ser um referencial de análise para todos os relacionamentos qu estabelecemos.

Somos todos chamados pelo Criador a viver e resguardar a liberdade que Ele nos concedeu, vivendo o desafio de sermos pessoas.

Ser pessoa consiste em dispor-se de si e dispor-se aos outros.
Trata-se de um projeto audacioso de pertencer-se para doar-se.

Sem rodeios.
Só há dois caminhos.
Ou o relacionamento nos fortalece a subjetividade, encaminhando-nos a uma natural partilha do que somos, ou ele nos enclausura nos cativeiros do afeto possessivo, retirando-nos o direito de dispormos de nós mesmos.

E pra pensar na cama:
“Há pessoas que nos roubam. 
Há pessoas que nos devolvem.”

(Paula Duran)


terça-feira, 14 de outubro de 2014

O MUNDO ESTÁ SÉRIO DEMAIS

"O mundo está sério demais. O sorriso há muito tempo deixou de ser manchete. Foi substituído pelas misérias humanas.

Devemos desligar um pouco a TV, fechar um pouco os jornais e voltar a fazer coisas simples: andar descalço na areia, cuidar de plantas, criar animais, fazer novos amigos, conversar com vizinhos, cumprimentar as pessoas com um sorriso, ler bons livros, meditar sobre a vida, expandir a espiritualidade, escrever poesias, rolar no tapete com as crianças, namorar nosso marido ou nossa mulher, rir de nossa seriedade, fazer do ambiente de trabalho um oásis de prazer e descontração.

Apareça de vez em quando vestido de palhaço para seus filhos ou para as crianças internadas nos hospitais. 

Aquiete sua mente, mude seu estilo de vida. 

Mude sua agenda.

As pessoas gostam de conviver com você?

 Ainda que não tenha dinheiro, se for uma pessoa agradável, você é uma pessoa rica. 


Se for desagradável, ainda que milionária, será apenas suportável.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

POEMA DO CHICO

Que Deus não permita que eu perca o ROMANTISMO,
mesmo eu sabendo que as rosas não falam.

Que eu não perca o OTIMISMO,
mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.

Que eu não perca a VONTADE DE VIVER,
mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...

Que eu não perca a vontade de TER GRANDES AMIGOS,
mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...

Que eu não perca a vontade de AJUDAR AS PESSOAS,
mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.

Que eu não perca o EQUILÍBRIO,
mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.

Que eu não perca a VONTADE DE AMAR,
mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...

Que eu não perca a LUZ e o BRILHO NO OLHAR,
mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos...

Que eu não perca a GARRA,
mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos...

Que eu não perca a RAZÃO,
mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.

Que eu não perca o SENTIMENTO DE JUSTIÇA,
mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu...

Que eu não perca o meu FORTE ABRAÇO,
mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...

Que eu não perca a BELEZA E A ALEGRIA DE VER,
mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...

Que eu não perca o AMOR POR MINHA FAMÍLIA,
mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia.


Que eu não perca a vontade de DOAR ESTE ENORME AMOR que existe em meu coração,
mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.

Que eu não perca a vontade de SER GRANDE,
mesmo sabendo que o mundo é pequeno...

E acima de tudo...

Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente,
que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois....

A VIDA É CONSTRUÍDA NOS SONHOS
E CONCRETIZADA NO AMOR!


Amorosamente,

Francisco Cândido Xavier

(Geralmente, lemos as psicografias de Chico Xavier,
mas este é um poema do próprio Chico)

Foto: Mar da Galileia (*Pixabay) Irmãos, que alegria estarmos todos aqui neste ambiente de paz, amor, fraternidade e luz, muita...